Enquanto uns vendem lenços, outros te fazem parar de chorar


Por Ricardo Bezerra – CEO IT4 Solution

Meu celular não para desde que foi decretado o isolamento social em São Paulo. 

Nas primeiras horas, clientes apreensivos. Depois leads frios que ressurgiram com propostas indecorosas e uma pressa impensável. Hoje muita gente buscando uma tábua de salvação.

Nada mais natural. A tão falada transformação digital, impulsionada por resultados expressivamente positivos nos últimos anos do comércio eletrônico no Brasil, já era o futuro do varejo antes da pandemia. Eu tanto acredito, que dediquei meus últimos 15 anos a consolidar negócios no segmento mas acho muito necessário tirar um pouco de lenha desta fogueira.

De cada 4 empresas abertas, 1 não chega a completar 2 anos. De cada 10 empresas, 6 não completam 5 aniversários. No online as estatísticas são ainda mais assustadoras: 80% dos e-commerces não irão chegar no segundo aniversário.

Números que já não eram favoráveis devem despertar ainda mais cautela para quem está embarcando no digital.

É hora de repensar seu negócio como um todo. Por exemplo: se você espera que as vendas online compensem seus pontos de venda fechados, ou o pouco movimento de pessoas nas ruas, manter altos custos operacionais da venda presencial a médio prazo não é a melhor escolha.

O “novo normal” já chegou. Agora precisamos compreendê-lo. Como então estruturar seu negócio para sobreviver à pandemia e prosperar na nova normalidade?


A pandemia do novo coronavírus acelerou uma mudança de hábitos que já vinha sendo anunciada há muito tempo. A quarentena jogou de uma hora para a outra o mundo do varejo e dos serviços para dentro de uma nova realidade onde a operação precisa necessariamente ser viável de forma remota e, para fazer isso, é preciso estar digitalmente presente em todos os canais disponíveis.

Varejistas de todos os perfis buscaram – e alguns ainda não encontraram – a melhor forma de se adaptar rapidamente a essa nova realidade e efetivamente operar como e-commerces na duração da quarentena.

Quem já tinha uma estrutura pronta para operar online pôde apenas adaptar a sua força de trabalho e logística dentro dessas novas condições e está colhendo frutos de um investimento feito muito antes do início da pandemia.

Por outro lado, quem não tinha algo pronto e se vê obrigado a tirar um novo modelo de operação, digamos, da cartola, agora se encontra confrontado com uma série de dúvidas sobre como proceder frente a esse novo cenário. Mudo o perfil do meu negócio ou fico em modo de espera à mercê do imponderável? Faço um puxadinho digital ou invisto de verdade em uma solução tecnológica?

O que é preciso ter em vista é que o tão desejado retorno à normalidade não será obtido simplesmente com a flexibilização ou mesmo o fim da quarentena. A mudança de hábitos dos consumidores forçada pela pandemia não será simplesmente revertida.

Estamos entrando em uma nova etapa da evolução do varejo, na qual mais atividade econômica do que nunca antes será direcionada para o e-commerce e diversas áreas do varejo e dos serviços físicos sofrerão transformações radicais e surpreendentes. Um cenário onde quem pensar grande vai ter mais chances de se dar bem e quem insistir no jeito antigo de fazer as coisas pode se descobrir completamente obsoleto de uma hora para a outra.

Todos estudamos na escola a grande mudança econômica e social ocorrida no início do século XX com o fenômeno da urbanização e do êxodo rural. Foi ali que começaram a ser formar as nossas grandes cidades e essas novas grandes aglomerações humanas, com uma mistura inédita de culturas, ideias e experiências, foram um propulsor fundamental para modernização da sociedade.

Pois bem, agora o que está diante dos nossos olhos é uma nova mudança de similares proporções. A pandemia vai acelerar a evolução de tendências que já existiam na economia e na sociedade, assim como reverter outras. 

Há pouco tempo atrás, fazer compras online era um hábito restrito a uma pequena parcela da população. Uma faixa demográfica identificada com a adoção precoce de novas tecnologias e uma preferência por fazer se relacionar com o varejo à distância.

Isso mudou radicalmente nos últimos dois meses. De repente, um número inédito de consumidores se viu compelido a encontrar formas de se relacionar remotamente com o comércio e os serviços dos quais sempre usufruiu de forma presencial.

Estudar à distância, fazer o supermercado sem sair de casa, comprar roupas sem provar… esses são alguns dentre muitos hábitos para os quais diversas pessoas torciam o nariz e agora passam a considerar como uma alternativa real. Uma parcela da população que nunca havia experimentado o universo do e-commerce está descobrindo que consumir pela internet não é um bicho de sete cabeças.

Na China, país que há mais tempo está lidando com a realidade da quarentena e do isolamento social forçado pela pandemia do novo coronavírus, existem exemplos muito interessantes de empresas que rapidamente encontraram modelos de operação viáveis dentro da crise. É o caso da Hema, rede de supermercados operada pelo gigante do e-commerce Alibaba. Mais da metade das suas vendas agora acontecem pelo aplicativo e são entregues diretamente no endereço indicado pelo cliente.

Essa nova realidade vai muito além do varejo e dos serviços. Com mais empresas encontrando equilíbrio dentro de um esquema de trabalho remoto, muitas pessoas começarão a ver com bons olhos a possibilidade de reduzir seu custo de moradia e aumentar sua qualidade de vida saindo das grandes cidades.

Essa potencial contra-urbanização é um movimento que vai diretamente de encontro a digitalização do varejo, já que estamos falando de pessoas que desejarão manter seu perfil de consumo – remoto – onde estiver.

Procure parceiros consistentes que ganhem com o seu sucesso. Desconfiem de soluções milagrosas e que parecem boas demais para serem verdade. Invistam seu tempo de maneira inteligente e entendam que existem oportunidades e que o jogo mudou.

Perto da minha casa existe um restaurante mexicano que mesmo com uma comida deliciosa vivia vazio. Ponto horroroso em um bairro de classe alta ele não conseguia se destacar e um final melancólico era questão de tempo. Com a pandemia entraram nos aplicativos de delivery, e agora a fila de motoboys na porta cresce a cada dia. Chuto que esteja faturando online muito mais do que jamais faturou na loja física.

O Nizan Guanaes disse que na crise há quem chore e quem venda lenços. É bem verdade, mas dessa vez vai sobreviver quem fizer seus clientes terem novos motivos para sorrir.

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